Num horizonte de até dois anos, o potencial para realização de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) de pequenas e médias empresas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) poderá alcançar 100 operações por ano.
"Depois que todo esse projeto de ofertas menores estiver estruturado, adequado e bem comunicado, pois há um desconhecimento muito grande entre os pequenos e médios empresários. Quando isso estiver bem amadurecido não tenho dúvidas que teremos um potencial de 100 IPOs por ano de pequenas e médias empresas", apontou ontem o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, após participar de evento de empreendedorismo promovido pela organização Endeavor e a consultoria EY.
Edemir explicou que esse potencial é uma questão de tempo. "O projeto de pequenas e médias foi aprovado recentemente e nasceu agora, temos pelo menos um ano ou dois anos para amadurecer".
Ele lembrou que o mercado de IPOs no Brasil foi consolidado de 2002 para cá, com as regras de governança do Novo Mercado. "Apesar da gente não ter a quantidade de IPOs desejada em 2012, 2013 e 2014, diante do potencial que o país tem, mesmo assim nós financiamos R$ 300 bilhões às empresas nos últimos dez anos", disse.
Quanto à entrada de grandes empresas na Bolsa, Edemir ressaltou que cerca de 60 companhias estão aguardando uma janela de oportunidade para captar recursos no mercado de capitais. "Os IPOs se retraíram porque os grandes compradores são os estrangeiros (60%), pois eles preferem um ambiente de mais longo prazo e com regras mais estáveis", disse.
Mas, Edemir minimizou a volatilidade causada pela questão eleitoral no Brasil. "A volatilidade na Bolsa ocorre não só no Brasil, mas em qualquer mercado do mundo em períodos eleitorais, inclusive na [desenvolvida] Noruega. Só muda de endereço", compara.
Mas especificamente sobre o mercado de capitais, Edemir contextualizou que apreensão dos investidores começou com a questão do setor elétrico há dois anos. "Começou com as elétricas, onde o governo tomou algumas medidas. O mercado considerou que o governo quebrou regras, mas eu digo, o governo não quebrou contratos, mas se pode ter críticas na forma como o governo comunicou e na forma que ele fez", identificou a origem.
"Depois houve críticas do mercado em relação à OGX e as questões da própria Petrobras. Isso foi uma reação do mercado. O aumento do IOF [Imposto de Operações Financeiras] também atrapalhou. Ou seja foi um conjunto de coisas que criou essa percepção aos olhos dos estrangeiros", disse.
Sobre o próximo mandato presidencial de Dilma Rousseff (2015-2018), Edemir espera que o governo combata a corrupção com todo o rigor, e que possa indicar a equipe econômica nos próximos 45 dias.
"A Dilma tem prazo até o dia primeiro de janeiro para montar sua equipe, um mês e meio, se a notícia vier antes melhor. Lá na Bolsa, a gente torce para que venha uma equipe que olhe para o futuro e trace as metas de forma muito clara, no curto, no médio e no longo prazo", desejou Edemir.
Ele acrescentou que está otimista com o Brasil, e com o potencial que o país possui. "E vou ficar mais otimista quando tivermos o anúncio da equipe econômica", concluiu.
Presente ao evento de empreendedorismo, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Luciano Coutinho disse que vê o mercado de capitais com perspectivas positivas para os próximos anos.
"Quando for possível retomar a redução da Selic [taxa básica de juros], o mercado de capitais terá um momento exuberante e importante para a captação de empresas. Não estou dizendo quando, mas avalio que o mercado de capitais brasileiro precisa se abrir mais para pequenas e médias empresas", disse Coutinho.
"Nós temos trabalhado muito junto com a BM&FBovespa no segmento de acesso e precisamos fomentar o nascimento de empresas, prepará-las para o mercado, e na área de inovação, o instrumento de capitalização é o mais para apoiar o desenvolvimento das empresas", concluiu o presidente.
Na avaliação do vice-presidente de mercados da EY, Luiz Sergio Vieira, as pequenas e médias empresas precisam de preparação para chegar ao mercado de capitais. "Nós auxiliamos às empresas. É toda uma jornada, algumas empresas vão chegar a abertura de capital e outras terão outros caminhos, e elas vão escolher suas opções para crescer", diz.
Cartão BNDES
Para empresas ainda menores, Coutinho lembrou que o cartão do BNDES foi desenvolvido para atender os empreendedores. Segundo ele, a previsão de 2014 é que o volume de desembolsos (financiamentos) do cartão BNDES alcance o montante de R$ 11 bilhões com mais de um milhão de transações. Num ticket de financiamento de R$ 10 mil, os juros na modalidade oscilam entre 5,89% ao ano no pagamento em 3 parcelas mensais até 11,58% ao ano em 48 parcelas mensais (4 anos).
O vice-presidente executivo do Itaú BBA, Jean-Marc Etlin, disse que o Itaú desenvolve uma oferta de produtos e serviços específicos para o público empreendedor. "Nós temos cerca de 60 mil clientes empresas nesse segmento de R$ 3 milhões até R$ 30 milhões. É aí que está o dinamismo da economia", diz Jean-Marc Etlin.
Fonte: DCI