Parcela ainda pequena (19%), mas relevante – praticamente uma em cada cinco organizações contábeis brasileiras – se encontra atualmente no caminho lento, porém consistente, do amadurecimento de um modelo de gestão, bem como de uma visão mais estratégica dos negócios de sua atividade.
Esta constatação faz parte da pesquisa “Gestão das organizações contábeis no Brasil”, realizada pelo professor Roberto Dias Duarte, um dos mais concorridos palestrantes do país e autor da série de livros “Big Brother Fiscal”. A íntegra do estudo pode ser baixada em: http://www.robertodiasduarte.com.br/contador2.0.pdf.
Aplicado entre os dias 10 de outubro e 30 de novembro de 2014, o levantamento ouviu 388 empresários do setor, estabelecidos em 22 estados e no Distrito Federal.
Dentre os dados também revelados, a existência de um número igualmente reduzido de organizações contábeis priorizando os serviços personalizados (33%) e especializados (17%) dentre os seus diferenciais competitivos.
“Em contrapartida, 56% já encaram a excelência no atendimento como fator importante de diferenciação. Paralelamente, quase 40% do total afirmam realizar ações estruturadas de marketing, seja para captação, atendimento ou fidelização de clientes, enquanto 55% ainda revelam preocupação com o aumento dos custos ou o baixo crescimento de receitas”, explica Duarte.
Segundo o professor, este cenário evidencia a transformação de um perfil exclusivamente técnico do profissional da contabilidade para um mais empreendedor. “Está claro tratar-se de um processo de mudança em pleno andamento, e que a sustentabilidade dos negócios contábeis depende desta transição”, ressalta o professor.
Novo patamar
A pesquisa também deixa claro que os empreendedores familiarizados com as ferramentas de gestão estratégica, aliadas à inovação em processos, atendimento e serviços, integram atualmente um novo patamar de organização contábil, mais competitiva e bem preparada para superar desafios e aproveitar as chances que possam surgir.
“Novas oportunidades têm sido abertas a todo instante no mercado contábil, especialmente pelo Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) e pelo eSocial, levando as empresas de contabilidade a ofertar atendimentos mais gerenciais que operacionais” analisa o autor do estudo.
Segundo ele, as que agem dessa forma têm ido além do mero cumprimento integral das obrigações acessórias e do cálculo correto de tributos, aspectos, porém, ainda apontados como diferenciais importantes por 70% e 63% dos entrevistados, respectivamente.
Atividades de alto valor
Atualmente, 65% das horas trabalhadas, em média, pelos colaboradores dos escritórios de contabilidade são dedicadas ao atendimento das demandas governamentais; 12% à produção e apresentação de informações para apoio à gestão dos clientes; 11% às rotinas administrativas e 9% à capacitação dos recursos humanos.
“As atividades comerciais, de marketing, parcerias estratégicas, planejamento estratégico e gerenciamento dos resultados do escritório consomem apenas 5% do tempo disponível, enquanto não mais que 12% do total se destinam a apoiar os clientes com informações gerenciais. Ou seja, ainda há uma longa caminhada até que as atividades estratégicas sejam consideradas prioritárias, pelo menos para a maioria dos empreendedores”, constata Duarte.
No seu entender, gastando-se a maior parte do tempo para atender ao governo, a percepção de valor para os clientes do escritório acaba sendo baixa, gerando um mercado com competição por preço. “Contudo, já há quem perceba a importância de uma atuação diferenciada, com serviços personalizados e variados, assim com uma atuação especializada no mercado, conforme apontaram, respectivamente, 33%, 26% e 17% das organizações contábeis ouvidas”, prossegue o estudioso.
Os resultados positivos dessa opção também ficaram evidentes na pesquisa, pois 37% dos escritórios que a declararam obtiveram aumento de receitas acima de 25% nos últimos três anos, situação semelhante à vivida por apenas 15% dentre os que ainda colocam preços baixos como diferencial.
Dificuldades
As empresas contábeis pesquisadas também afirmaram ter dificuldades em relação ao fluxo de informações enviado pelos clientes, geralmente com baixa qualidade e fora do prazo exigido pelo fisco. “Somente 16% delas indicaram problemas com a aderência de sistemas de informação e 5% com o cálculo de tributos”, pondera o especialista.
Segundo ele, o levantamento mostrou que em torno de 40% dos escritórios informaram que suas principais dificuldades para atuação no mercado são o baixo crescimento de receitas, as barreiras para contratação de pessoal e capacitação de mão de obra, além do controle da produtividade de RH.
Os prejuízos ficam ainda maiores quando o levantamento revela que 49% das organizações arcaram com custos de autuações de até R$ 5 mil, enquanto outros 10% disseram ter arcado com custos acima de R$ 10 mil. Apenas um terço das empresas pesquisadas não teve de bancar custos de penalidades fiscais, tributárias ou trabalhistas de seus clientes.
Fonte: Contábeis.com