Mais de 3,5 milhões de empresas estavam em julho com algum tipo de dívida em atraso no país, resultado da queda das vendas e do aumento de custos com fornecedores, funcionários e bancos.
É o maior volume de inadimplentes já registrado no setor produtivo, segundo a Serasa, dona do maior banco de dados de crédito do país.
O número equivale à metade dos 7 milhões de empresas "operacionais" no país, segundo os critérios da Serasa. Para a empresa de crédito, é operacional a companhia que pesquisou a situação cadastral de um cliente ou teve o seu CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) consultado no último ano.
A Receita Federal, que emite o CNPJ, contabiliza cerca de 14 milhões de cadastros ativos, incluindo companhias não-operacionais (holdings, fundos, empresa de participação etc.), além de firmas que faliram, mas não deram baixa no cadastro de contribuinte. Mesmo contando os CNPJs emitidos, os inadimplentes somam 25%.
São empresas que, pelos mais diversos motivos, estão com débito em atraso no banco, deram cheque sem fundo, tiveram títulos protestados, enfrentam ações judiciais porque não pagaram fornecedores ou funcionários, tiveram (ou terão) a luz e o telefone cortados ou entraram em recuperação judicial —processo em que pede prazo para negociar com credores.
Portanto, têm dificuldades para tomar dinheiro emprestado e comprar a prazo.
Os números da Serasa não incluem os débitos na Receita Federal, no INSS e nos Fiscos estaduais e municipais, com exceção daqueles em fase de execução ou inscritos na dívida ativa.
Do total de inadimplentes, 91% são empresas de pequeno e médio portes —com faturamento de até R$ 50 milhões por ano-, tidas como as mais vulneráveis às flutuações das vendas e do crescimento da economia. São ainda as empresas que mais empregam no país —respondem por 52% dos empregos formais, segundo o Sebrae.
Um terço dessas companhias está no Estado de São Paulo, que concentra o maior número de pequenas empresas. Os setores mais afetados são comércio (47%), serviços (42,6%) e indústria (9,1%).
Para Luiz Rabi, economista da Serasa, o número de empresas inadimplentes mostra o microcosmo da recessão técnica do país, após dois trimestres de contração no PIB.
"A empresa fica inadimplente porque não tem caixa para pagar as contas, pois não vendeu como esperava. Ao mesmo tempo, aumentou o custo de materiais, aluguel, salários e os juros do banco."
Recordes
Foi a primeira vez que a Serasa fez o levantamento pelo número de CNPJ com pendências. Até então, pesquisava o número de dívidas em atraso. Como o dado batia recorde após recorde (subiu 11,4% em julho, na comparação com julho de 2013), decidiu ver o número de empresas.
Para comparar com os anos anteriores, retroagiu ao máximo em seu próprio banco de dados. Descobriu que os 3,578 milhões de inadimplentes de julho deste ano são 8,9% a mais do que os 3,286 milhões de julho de 2013.
"Sabemos que o índice de mortalidade das empresas pequenas é alto. Mas não se trata de um crescimento vegetativo dessa mortalidade. Houve aceleração, o que indica uma piora considerável na economia", disse Rabi.
Para Joseph Couri, presidente do Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias de São Paulo, os dados não surpreendem: "É o dia a dia da maioria das pequenas indústrias brasileiras neste ano".
Fonte: Folha de S. Paulo