“Lugar de mulher é onde ela quiser”: interseccionalidade e Empoderamento Feminino de Empreendedoras Quilombolas na Ilha do Marajó
Resumo
O percurso histórico das mulheres foi marcado por infinitas lutas em função da discriminação. Entretanto, o preconceito pode se fragmentar quando contornado a outros eixos de opressão. Desse modo, este trabalho objetiva compreender como as interações de marcadores sociais afetam as trajetórias de vida de empreendedoras quilombolas do arquipélago marajoara. Para tanto, em virtude de seu caráter qualitativo, o estudo utilizou o método da história oral temática. A coleta dos dados decorreu de entrevistas semiestruturadas, com o grupo de empreendedoras “Sementes do Quilombo”, residentes na Comunidade Quilombola de Mangueiras, em Salvaterra, na ilha de Marajó. A interpretação e análise dos dados da pesquisa foram realizadas por meio da análise de conteúdo. Por meio dos relatos, observou-se que o acúmulo de marcadores sociais, nesse caso, gênero, raça e etnia tem influência na objeção de oportunidades durante a vida pessoal e profissional das empreendedoras. Os relatos expuseram a maneira estigmatizada que ainda se faz presente nas jornadas de mulheres de comunidades tradicionais. Quanto às limitações desse trabalho, estão os efeitos do empreendedorismo na vida de mulheres que pertencem à outras comunidades da região e a dificuldade em localizar estudos precedentes sobre a temática. As contribuições desta pesquisa circundam as discussões que podem emergir acerca da interseccionalidade em espaços pouco conhecidos, com ênfase em gênero, raça e etnia no contexto de mulheres quilombolas. No mais, almeja-se externar os desafios que enfrentam diante das desigualdades sociais.
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